sábado, 23 de junho de 2007

Par

Caminho. Caminho.
E paro.
Espero por vinte minutos. Vários passam por mim.
Não, não olho. Resisto até o fim. A final, é apenas vinte minutos.
E... meio atrasado, lá vem ele. Faço sinal, ele me vê.
Entro, me sento e espero. Viajamos juntos.
Por um momento, sou dele e ele é meu. Somos a fusão dos meus pensamentos com a ociosidade mental dele. Dá certo. É uma relação mecânica. Temperada à base de chatice e gasolina. Passam-se quinze minutos. Tenho que partir. Crio coragem. Peço pra descer. Puxo como se cortasse o laço que existe entre nós. Rompimento. Finalmente. Saio e vejo partir, o meu ônibus azul.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Exercício diário da felicidade

“Bem-me-quer,
malmequer”.
As flores já acabaram
deves sair daí
E ocupar outro campo.

“Bem-me-quer,
malmequer”.
Por que fazes assim?
Usas sempre as mesmas flores
Já decoraste o resultado.

“Bem-me-quer,
malmequer”.
Brincadeira de criança
Cheiro. Cheirinho.
Paixão por tulipas

“Bem-me-quer,
malmequer”.
Maroca tira pétala após pétala
“uma, duas, três”...
E não pára.




...isso foi vivido hoje, por três "crianças".

domingo, 17 de junho de 2007

Silhueta

Chegou, como de costume, às 2:13 da tarde. Sentou-se na mesa de sempre e observou pela milésima vez o lugar. A primeira coisa que prendeu o seu olhar, foi à mesma que o vigiava nos últimos 3 dias. Sentiu-se vivo. Sentiu algo. Piscava com freqüência os olhos, afastando as dúvidas. Pés e mãos suadas, demência. Palavras que iam e vinham sem saírem da boca. Balançava as pernas ao mesmo tempo em que pedia um fósforo à garçonete para acender um cigarro. A figura estava na mesa do canto, um pouco ao lado. E ele, fazia o movimento descompassado com as pernas e afirmava a si mesmo que já havia esquecido aquele rosto cético, de sobrancelhas ameaçadoras e olhos pós-marejados. Admirou o teto da cafeteria e ao retornar o olhar para a mesa do canto, nada viu. Pagou a bebida, levantou-se e saiu.