domingo, 23 de março de 2008

O aniversário


Vovó chegou às 5 da manhã e trazia nas mãos um embrulho. Bonito, feito de papel brilhoso e fita de cetim amarrado num laço.
Deixou-o em cima da mesa e foi embora. Vivi "dormia" no sofá, com os olhos semicerrados e acompanhava tudo. Hoje era seu aniversário. Ela já tinha arrumado tudo no quarto dos fundos. Todas as bonecas, balões, chapéus e até brigadeiros feitos de papel, já que não havia quitutes. Eu não tinha nada a ver com essa história, sei nem como vim parar aqui. Mas vovó fazia parte dela... Chegou o momento. 9 da manhã. Vivi olhou por cima do sofá e levantou. Estava lá, do jeito que vovó havia deixado. No embrulho, ela escreveu: VIVI, já que a menina havia aprendido a escrever o nome recentemente. Curiosa, foi até a mesa. Abriu-o com todo cuidado enquanto decidia guardar a fita para enfeitar os cabelos. Não acreditou. Foi ao banheiro, lavou o rosto e voltou. Era isso mesmo. Um vestido! Azul, com gola branca e que serviria direitinho com os sapatos que a Giorgia havia lhe repassado, visto que não a serviam mais. Vivi se vestiu. O relógio já apontava para as 9:15. Correu até o quarto dos fundos. Abriu a porta e... aquele foi o melhor aniversário da sua vida.

sábado, 22 de março de 2008

sobre a chuva...

As coisas lá em cima têm um "q" de egoísmo. O que eles mais têm mandado pra cá é chuva, que ainda por cima deixa a gente doente!


indagação:
Quando era pequena, ganhou uma caixinha da avó e queria o Sol para guardá-lo. Como resposta, disseram que ela só podia ter a chuva como parte do céu. Hoje, ela se pergunta:
se a única coisa que a gente pode ter do céu é a chuva... Então o doutor Ricardo, que mandou construir uma hidrelétrica para abastecer a cidade de Rio Claro, possui um pedacinho do céu?

quinta-feira, 20 de março de 2008

Algo de amor

Ele veio tão rápido, tão rápido... E eu sabia o que queria de mim.
Saiu quase do mesmo jeito que entrou, salvo a esperança que o acompanhava antes de entrar naquela casa. Não houve diálogo, nunca houve. Permaneci quieta debruçada na janela do único quarto que me permitia ver a rua. Ouvi quando a campainha tocou, mas não me mexi. Dona Olga deve ter atendido, sempre abre a porta quando recebemos visitas. Do quarto, sentia que ele tinha acabado de sentar na segunda poltrona – a que eu costumava tocar depois que ia embora - e que havia aceitado o café forte que convidava a rua a comparecer com suas xícaras. Parece-me que veio com notícias e no fundo, eu o imaginava perguntando:
- E Violeta, como está?
Ah, como queria respondê-lo! Mas não era permitido. A gente queria, mas não podia ser parte um do outro. Vinte minutos depois, poltrona vazia. Eu, ainda debruçada acompanhava seu passo lento descendo a rua. Precisava de um terno novo. Enquanto isso, Dona Olga jogava no lixo mais algumas flores endereçadas a mim.