domingo, 6 de maio de 2007

Visita num sábado chuvoso, tedioso e proveitoso.

Chove.
O vento me chama lá fora. Encosto o rosto no vidro e sinto a frescura violenta. Ouço. Está uivando, falando comigo. Abri a janela. Fiz o convite:
- Quer entrar?
Ele nem respondeu. Me insultou dizendo que um homem feito ele deveria entrar pela porta. Foi logo desligando a vitrola:
-Como é que você escuta estas porcarias?
"Olha quem fala. Ele produzia um barulho horrível na minha janela e reclamava da maneira que eu havia arrumado pra não ouví-lo".
Eu era só. As visitas que ele me fazia só serviam para me lembrar que eu era só. Nada mais.
Eu fui uma escritora famosa. Tive tudo que uma pessoa poderia desejar. Era feliz, pensava que era feliz. Mas não. A vida que escolhi me fez abrir mão da minha família. Recebi vários prêmios, era reconhecida. Melhorei de vida, mas não como pessoa. Meus livros sempre tinham o vento como personagem principal. Aí comaçaram as crises. Minhas publicações não eram mais aceitas. Perdi contratos, perdi prestígio. Percebi que tudo havia sido um momento e que eu não havia construído nada. Isolei-me. Trancafiei-me. Crises atrás de crises...
Passado o momento narrativo e de apresentações, voltemos a cena:
Na minha sala, com um único personagem que insistia em dar pitacos na minha vida...
Tarde demais. Ele sempre faz isso. Quando percebe que há mais alguém na sala além de nós, ele some e demora pra voltar. Fica magoado. Não quer que eu revele seus segredos...
E você? Vai voltar? Quer insistir? Fornar um trio? Não será fácil!
Eu estou disposta. Simpatizei com você. Ora, caro leitor , sei que és teimoso... Deves até, durante a minha introspecção, pensar que estava sendo insultado e ter me xingado. Heim? Volte aqui, gosto de visitas... até o meu amigo-personagem expulsá-las!
Sou só. Nada mais.

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